Não, Regina Duarte, o arquivo da Secretaria Especial da Cultura não está morto

Foto: https://www.instagram.com/p/B9p44xljgIf/

Regina Duarte, nomeada secretária especial de Cultura em março de 2020, exonerada dois meses depois, demonstrou em diversas ocasiões seu despreparo e desconhecimento sobre a referida pasta – setor considerado estratégico para o avanço cultural, educacional, tecnológico, científico e econômico de um país. Infelizmente, Regina Duarte saiu da condição de “Namoradinha do Brasil” para ser cúmplice dessa desastrosa, obscurantista e equivocada gestão que governa atualmente nosso país; gestão esta que demoniza as artes, os artistas – sua própria classe – e desrespeita nossa cultura tão diversa.

A artista recentemente publicou em sua conta no Instagram uma imagem de caixas de documentos empilhadas, segundo a própria, nos “porões da Secretaria”. A descrição da imagem, mais uma vez, confirma que Regina não tem conhecimento da responsabilidade que assumiu. Esse acervo, com identificação do Ministério da Cultura, segundo ela, seria o “Arquivo Morto da Lei de Fomento e Incentivo à Cultura”, que ficará para a posteridade e que, dali em diante, seria necessário um “trabalho de formiguinha”e a digitalização um meio de dar acesso a toda população.

Não, Regina Duarte, o arquivo da Secretaria Especial da Cultura não está morto! Essa expressão caiu em desuso há muito tempo, e quem ainda a utiliza demonstra desconhecimento acerca do que é um arquivo e da sua importância para qualquer sociedade minimamente democrática e civilizada.

O arquivo equivocadamente chamado de morto pela ex-atriz global é, ao que tudo indica, um arquivo permanente e segundo a teoria arquivística tem valor informativo, probatório e histórico, devendo ser preservado para consulta – podendo a sua digitalização, seguindo as recomendações do Conselho Nacional de Arquivos, facilitar a disponibilização à quem dele necessite.

A função principal dos arquivos considerados permanentes, ou históricos, é recolher e tratar documentos públicos e privados de interesse público. Após cumprirem sua função pelas quais foram produzidos, servir à administração, comprovando, assim, uma atividade institucional, os documentos de valor permanente deixam a condição de “arsenal da administração” para a de “celeiro da história”, na acepção do arquivista francês Charles Braibant, como nos informa a Profa. Heloísa Liberalli Belloto, em sua clássica publicação Arquivos permanentes: tratamento documental.

Regina, esse arquivo é mais vivo do que você pode imaginar. É fonte de consulta, de valor de prova, de construção de conhecimento, de fortalecimento da memória. E o “trabalho de formiguinha” ao qual você se refere é – para nós, arquivistas – chamado de: pesquisa, avaliação, classificação, arranjo, descrição, criação de instrumentos de pesquisa, difusão e preservação da informação registrada.

Kalinka Brant da Silva

Mestranda em Ciência da Informação (ICI/UFBA)

Bacharel em Arquivologia (UFBA)

Licenciada e bacharel em História (UNIBH)

Membro associada da AABA

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